Quando o coração queima, mas a alma aprende
- Girlande Oliveira
- 13 de abr.
- 4 min de leitura
Ontem, enquanto fritava bacon na cozinha, algo aparentemente simples virou um lembrete profundo sobre a vida, as dores do coração e o jeito que reagimos às crises.
A cena era cotidiana: frigideira no fogo, louça para lavar, e aquela sensação de estar fazendo mil coisas ao mesmo tempo – algo bem familiar, não é? No meio da multitarefa, fui descartar o óleo quente. Peguei uma colher para ajudar a transferir a gordura para um recipiente de vidro, mas cometi um erro comum: a colher estava molhada.
No segundo em que a água tocou o óleo quente, ele reagiu. Espirrou para todos os lados. Foi rápido. Caótico. Perigoso.
Minha reação?Fechei os olhos. Virei o rosto. Mas não larguei a frigideira.
A maior parte do óleo caiu no meu braço e mão. Uma pequena área próxima ao dedo indicador sofreu uma queimadura mais séria. Mas, se eu tivesse soltado a panela no reflexo do susto, tudo poderia ter sido pior: queimaduras graves, o óleo no chão, o vidro estilhaçado, uma cena ainda mais caótica para limpar depois.
E foi ali, entre a dor do calor na pele e o alívio de ver que podia ter sido muito pior, que percebi: essa é a vida. E esse é um guia prático para corações partidos.
1. Crises acontecem no meio da rotina. E quase sempre nos pegam desprevenidas.
Eu não acordei ontem pensando: “Hoje vou me queimar na cozinha”.
Estava simplesmente fazendo o que faço todos os dias: preparando algo para comer, lavando louça, tocando a vida. Como tantas vezes a gente faz: cuida da casa, trabalha, envia mensagens, responde e-mails... vive.
Mas foi no meio desse cenário comum que algo inesperado aconteceu.
Assim são muitas das dores emocionais que vivemos. O coração se parte em dias comuns. Numa mensagem que chega, numa ausência que pesa, numa palavra atravessada, num gesto não correspondido.
A vida não avisa quando o óleo vai espirrar. Ela só acontece. E a gente precisa saber o que fazer com aquilo.
2. A gente contribui para o caos – mesmo sem querer.
Foi um detalhe pequeno: uma colher molhada. Algo que poderia ter sido evitado com mais atenção.
E eu não vou mentir: meu primeiro impulso foi me culpar. “Como fui tão distraída?” “Por que não verifiquei antes?” “Como deixei isso acontecer?”
Mas a verdade é que todos nós, em algum momento, contribuímos para as situações que nos machucam.
✔️ Nos calamos quando deveríamos ter falado.
✔️ Apostamos em alguém que já mostrava não estar disponível.
✔️ Insistimos em relações que pediam despedida.
✔️ Ignoramos nossos próprios sinais de alerta.
Isso não significa que merecemos a dor. Mas reconhecer nossa parte nos devolve o poder de agir diferente.
A vida não é sobre viver sem falhas. É sobre reconhecer onde erramos, ajustar a rota e seguir em frente com mais consciência.
3. O primeiro instinto nem sempre precisa ser fuga.
Na hora em que senti o óleo quente espirrando, meu corpo reagiu instintivamente: protegi o rosto, fechei os olhos. Mas mantive a frigideira firme nas mãos.
Isso me marcou. Porque em tantas situações da vida, o primeiro impulso é largar tudo e fugir.
✔️ Fugir de uma conversa difícil.
✔️ Fugir de um término necessário.
✔️ Fugir de uma dor que não queremos sentir.
Mas, às vezes, o que precisamos fazer é exatamente o oposto: segurar firme, mesmo que doa.
Não para suportar o insuportável. Mas para agir com presença e evitar que o caos se espalhe ainda mais.
Se eu tivesse largado a frigideira, o estrago teria sido maior. E na vida também é assim: há momentos em que segurar firme é o que salva.
4. Redução de danos: nem tudo pode ser evitado, mas muito pode ser cuidado.
Depois do susto, o mais importante era cuidar da pequena queimadura. E aceitar que ia doer um pouco até melhorar.
O mesmo vale para o coração. Nem toda dor pode ser evitada. Mas toda dor pode ser cuidada.
✔️ Quando um relacionamento termina, o que você faz com a saudade?
✔️ Quando alguém te fere, como você cuida da ferida?
✔️ Quando a vida te decepciona, como você recomeça?
A gente não precisa fingir que não doeu. Nem precisa fingir que superou em dois dias.
Mas podemos agir para reduzir os danos. Evitar se expor a mais sofrimento. Recolher os cacos com delicadeza. Procurar apoio. Dar ao corpo, à mente e ao coração tempo para regenerar.
5. Você ainda tem o controle – mesmo quando tudo parece fora do lugar.
É curioso como, mesmo no meio do caos, existe um espaço interno de lucidez.
Enquanto o óleo espirrava, meu corpo sabia o que fazer. Sabia que largar tudo pioraria as coisas. E, depois do susto, voltei à pia, limpei o que precisava, cuidei de mim.
Isso me fez pensar: mesmo quando parece que perdemos o controle, ainda podemos fazer escolhas.
✔️ Podemos escolher como reagir à dor.
✔️ Podemos escolher com quem compartilhar o que sentimos.
✔️ Podemos escolher dar passos pequenos, mesmo que o caminho pareça grande demais.
Você não precisa controlar tudo. Mas pode assumir o que é possível agora. E isso já muda tudo.
6. A dor passa. E ensina.
Hoje, escrevendo este texto, ainda sinto uma leve ardência no dedo. Mas agora ela vem acompanhada de consciência.
Não pego mais colher molhada com óleo quente. E, acima de tudo, tenho mais respeito pelo momento presente.
Assim também são as dores do coração. Elas doem, claro.
Mas depois, deixam marcas que nos ensinam.
✔️ A não aceitar menos do que merecemos.
✔️ A nos respeitar mais.
✔️ A ouvir nossa intuição.
✔️ A perceber que algumas feridas nos tornam mais sábias.
A dor passa. E quando passa, se transforma em sabedoria.
Para levar consigo
Um coração partido não é o fim da estrada. É um redirecionamento.
✔️ Às vezes, a vida vai espirrar óleo quente em cima de você.
✔️ Às vezes, você vai contribuir para o próprio caos.
✔️ Às vezes, o instinto será fugir – mas o melhor será segurar firme.
E tudo bem. O que importa é o que você faz depois.
Cuidar da ferida. Aprender com ela. Voltar à cozinha no dia seguinte, com mais atenção. Voltar à vida, ao amor, aos sonhos – com mais presença, mais coragem e mais amor por si mesma.
Esse é o verdadeiro guia para corações partidos.
🌿✨ A dor pode até queimar. Mas você continua inteira. E sabe, sim, como se cuidar.
Girlande Oliveira
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