O reencontro com quem você sempre foi
- Girlande Oliveira
- 5 de jun.
- 5 min de leitura
Existe um momento — e ele chega para todos — em que a vida nos obriga a parar.Não é uma pausa voluntária. É uma interrupção inesperada. Uma ruptura.Pode ser um término, uma perda, uma crise existencial, uma doença, uma decepção.Algo nos tira do eixo e nos faz encarar o espelho sem nenhuma distração por perto.
É nesse momento que muitas pessoas iniciam, sem nem perceber, a jornada mais importante da vida: a jornada de volta para si mesmas.Essa jornada se chama autoconhecimento.E o destino, ainda que não pareça no começo, é a cura.
Hoje quero caminhar com você por esse território interno, onde dor e sabedoria andam de mãos dadas, e onde a resposta que tanto buscamos lá fora começa, enfim, a brotar por dentro.
Quando a dor nos convida a olhar para dentro
A dor tem um jeito curioso de nos ensinar.Ela rasga, sim.Mas também revela.
Ela desmonta ilusões.Interrompe repetições inconscientes.Chama atenção para o que estava sendo ignorado.
Por mais que doa, a dor não vem para nos destruir.Ela vem para nos dizer: “Existe algo em você que precisa ser visto, reconhecido, cuidado.”
É o primeiro passo do autoconhecimento: olhar para dentro.
E esse olhar assusta.Porque ali dentro mora tudo: as partes que amamos e também aquelas que escondemos.Mora a criança ferida, a mulher que se perdeu tentando agradar, a que se silenciou para ser aceita, a que carrega crenças que não são mais suas.
Mas também mora ali a força que sobreviveu a tudo isso.Mora a inteireza.Mora a sabedoria.
O que é, de fato, autoconhecimento?
Autoconhecimento não é virar expert em si mesma.Não é memorizar listas de traços da sua personalidade ou fazer mil testes de internet.
Autoconhecimento é reconhecer-se.É aprender a se escutar com honestidade.É perceber seus padrões, seus gatilhos, suas repetições.É identificar o que machuca e o que cura.É se aproximar, de forma profunda, da mulher que você é quando não está se esforçando para agradar ninguém.
É o processo de desmontar o que colocaram sobre você — para finalmente vestir o que é seu.
Cura não é ausência de dor
Cura não é um lugar onde tudo é perfeito.Não é viver sem tristeza, sem raiva, sem medo.
Cura é não se afundar mais nesses estados.É reconhecê-los e saber o que fazer com eles.É não ser mais refém das próprias reações.É ter compaixão por si nos dias ruins e presença nos dias bons.
É saber que a dor ainda pode aparecer — mas agora você sabe se acolher.E isso muda tudo.
As fases desse caminho
A jornada de autoconhecimento e cura não é linear.Você pode caminhar por várias dessas fases ao mesmo tempo, voltar algumas casas, seguir em frente…Cada processo é único.
1. Despertar
Geralmente, a dor inicia o processo.É quando percebemos: não dá mais para continuar como está.A relação está sufocando.O trabalho já não faz sentido.A forma como nos tratamos é cruel.Algo precisa mudar.
Esse é o início: um desconforto que se recusa a ser ignorado.
2. Encarar
Olhar para dentro exige coragem.Aqui começam as grandes perguntas:
Quem sou eu, de verdade?
O que me faz bem?
O que estou repetindo sem perceber?
Que feridas estão guiando minhas escolhas?
É a fase do mergulho.Nem sempre é bonita, mas é libertadora.
3. Acolher
Não basta identificar. É preciso acolher.É aqui que você começa a dizer para si:“Eu entendo por que fiz isso. Eu sei de onde veio. E agora posso escolher diferente.”
Acolher é olhar para suas versões passadas sem julgamento.É estender a mão para a sua própria dor, ao invés de apontar o dedo.
4. Transformar
Com o tempo, você começa a fazer diferente.Começa a colocar limites.Começa a dizer “não” sem culpa.Começa a falar de sentimentos.Começa a se priorizar.
Transformar não é mudar quem você é — é voltar para quem você sempre foi.
Ferramentas que ajudam nesse caminho
Ninguém precisa (nem deve) fazer essa jornada sozinha.Existem ferramentas e práticas que tornam o processo mais leve, mais consciente, mais possível.
✦ Terapia
É o espaço seguro para olhar para sua história com apoio e profundidade.Um lugar onde você pode ser inteira, sem filtros.
✦ Escrita terapêutica
Escrever ajuda a organizar emoções, dar nome ao que se sente, revelar verdades escondidas.Não é sobre escrever bonito — é sobre escrever verdadeiro.
✦ Meditação e presença
Nem sempre conseguimos silenciar a mente, mas podemos aprender a observar.Meditar é estar com você — com tudo o que há aí dentro, sem fugir.
✦ Movimento corporal
O corpo guarda memórias.Dançar, caminhar, praticar yoga ou mesmo se alongar são formas de liberar emoções e voltar a habitar o próprio corpo.
✦ Autocompaixão
Tratar-se como você trataria uma amiga querida.Parar de se punir por falhas.Começar a se ouvir com gentileza.
As armadilhas do caminho
Alguns comportamentos sabotam o processo:
Apressar-se para “evoluir”. Cura leva tempo.
Comparar sua jornada com a de outras pessoas. Cada mulher tem seu ritmo.
Achar que precisa estar sempre bem. Não existe cura sem queda.
Romantizar o processo. Autoconhecimento dói. Mas também liberta.
O caminho é real, não é perfeito.Mas é o único que leva você de volta para casa.
O que muda quando nos conhecemos
Você para de buscar aprovação o tempo todo.
Você aprende a dizer “não” sem se perder.
Você entende que não é egoísmo se escolher.
Você se conecta com sua intuição.
Você aprende a se escutar — de verdade.
Você se liberta de repetir o que te machuca.
Não porque a vida fica fácil.Mas porque você fica mais inteira para viver o que ela traz.
A vida continua, mas de outro jeito
Depois que a gente se encontra, nada mais encaixa onde não deve.A gente desapega de gente, lugares, ideias e versões que não cabem mais.
E, no começo, isso pode dar medo.Mas depois vira alívio.Porque agora você sabe:
O que sente.
O que quer.
O que merece.
Quem você é.
Esse é o poder do autoconhecimento: ele te devolve para si.
E esse é o milagre da cura: ela não apaga a dor, mas transforma a forma como você a carrega.
Para levar consigo
Você não precisa estar pronta.
Você só precisa estar disposta.
A olhar para dentro.A se escutar com verdade.
A tratar-se com mais gentileza.
A não se abandonar no meio do caminho.
A jornada de autoconhecimento e cura não é sobre perfeição — é sobre presença.
E o seu recomeço pode começar agora, com o simples gesto de escolher-se.
Que você se encontre.
Que você se escute.
Que você se cuide.
E que, aos poucos, perceba:a mulher que você está se tornando é, na verdade, a mulher que você sempre foi.
Com carinho,
Girlande Oliveira
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