Superando a dor através da resiliência emocional
- Girlande Oliveira
- 30 de mai.
- 4 min de leitura
A dor chega sem pedir licença.
Ela se instala em silêncio, às vezes com gritos, às vezes com ausência. E quando ela vem, tudo parece perder o sentido: os dias ficam mais cinzas, as noites mais longas, e até o que antes era leve passa a pesar. Mas é nesses momentos que somos convidados, mesmo sem querer, a visitar partes de nós que ainda não conhecíamos. É aí que começa o processo mais profundo de todos: reconstruir a força que vive em nós.
A resiliência emocional não é sobre evitar a dor. Não é sobre fingir que está tudo bem quando o mundo está desabando por dentro. É sobre aprender a acolher essa dor, entender o que ela está tentando mostrar e, aos poucos, reaprender a viver apesar dela.
“A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.” — Haruki Murakami
A travessia entre a queda e o recomeço
Quando a dor nos atinge—seja pela perda de alguém querido, pelo fim de uma relação, por uma decepção profunda ou até mesmo pela ruptura de planos que pareciam certos—ela nos arranca do chão seguro em que pisávamos. De repente, estamos no meio de um território desconhecido, tentando entender o que restou.
Esse período de transição é, muitas vezes, o mais desafiador. E também o mais negligenciado. Espera-se que sejamos fortes, que superemos rápido, que não “dramatizemos”. Mas a dor não obedece a prazos. Ela precisa ser vivida.
A resiliência emocional começa quando damos permissão para sentir. Quando paramos de lutar contra o que estamos sentindo e passamos a nos ouvir com mais compaixão.
Reconhecendo a dor para curar
Negar a dor não a elimina. Apenas a silencia por um tempo, até que ela encontre outras formas de se manifestar. Talvez na ansiedade que cresce sem explicação. No corpo que adoece. Na raiva contida que explode em pequenos gatilhos.
Reconhecer a dor é o primeiro passo da cura. Dizer para si mesma: “Isso está doendo. Isso importa. Eu preciso de tempo.” é um gesto de coragem. Porque viver o luto de qualquer perda exige mais bravura do que fingir força.
Não há vergonha em sofrer. Há humanidade.
A importância de redes de apoio
Você não precisa atravessar tudo sozinha. A resiliência emocional também nasce no encontro com o outro. Seja numa conversa com uma amiga que escuta sem julgar, seja no colo da terapia, seja no grupo de apoio, ou até mesmo através de histórias que você lê e se reconhece.
Criar ou buscar redes de apoio é um passo importante para a reconstrução. Porque nesses espaços, a dor é validada. E quando ela é validada, ela deixa de ser um monstro solitário e passa a ser parte de algo maior.
Pequenos gestos, grandes recomeços
A resiliência emocional não exige grandes feitos. Ela mora nos pequenos gestos.
É acordar e tomar banho mesmo sem vontade.É escolher comer algo nutritivo mesmo sem fome.É arrumar a cama como quem diz para si mesma: “Eu ainda estou aqui.”É sair para caminhar sem rumo, apenas para respirar.
Esses gestos não anulam a dor, mas lembram o corpo e a alma que ainda há vida ali. E que, apesar da dor, você está tentando.
As fases do reerguimento emocional
A aceitação
Não significa se conformar, mas reconhecer que algo aconteceu e mudou sua vida. É quando deixamos de resistir à realidade e começamos a olhar para ela com mais clareza.
A compreensão
Buscamos entender o que essa dor está nos ensinando. Talvez seja sobre limites. Sobre amor-próprio. Sobre finitudes. Sobre ciclos que se encerram para que outros possam começar.
A reconstrução
Aos poucos, começamos a nos reorganizar internamente. Traçamos novos caminhos, resgatamos sonhos esquecidos, descobrimos novas possibilidades.
A integração
A dor já não ocupa todos os espaços. Ela ainda está lá, mas agora convive com outras emoções. Há gratidão pelo que foi vivido, aprendizado pelo que foi perdido e esperança pelo que está por vir.
Práticas para cultivar a resiliência
Escreva: Diários, cartas que não serão enviadas, palavras soltas. Escreva para organizar, para aliviar, para entender.
Medite: Mesmo que por poucos minutos. Respirar com presença é um antídoto contra o caos interior.
Busque ajuda profissional: Psicólogos, terapeutas, grupos terapêuticos. Não há fraqueza em pedir ajuda. Há maturidade.
Reconecte-se com o corpo: O corpo guarda nossas emoções. Movimento, alongamento, danças livres—qualquer forma de expressão corporal ajuda a liberar o que está preso.
Crie rituais de cuidado: Um banho com calma, uma vela acesa com intenção, uma pausa para ouvir música.
Transformar a dor em força
Sim, é possível. Não imediatamente. Não como um passe de mágica. Mas pouco a pouco, como quem planta algo em um solo devastado. A dor cavou espaços profundos. E, nesses espaços, pode brotar algo novo.
Não, não será como antes.Mas pode ser melhor.Mais verdadeiro.Mais leve.
Porque quando sobrevivemos à dor, saímos dela com uma clareza que antes não tínhamos. Sabemos o que nos importa. Sabemos quem somos. E, principalmente, sabemos do que somos feitas.
Para levar consigo
Você não precisa estar bem o tempo todo.
Você não precisa fingir força quando tudo dentro de você grita por colo.
Você não precisa se reconstruir de uma vez.
Mas você pode.
Pode começar devagar.
Com um gesto.
Com um respiro.
Com uma escolha.
A resiliência emocional não é o fim da dor.
É a certeza de que, apesar dela, você segue.
E esse seguir é, por si só, uma forma de vitória.
Com gentileza,
Girlande Oliveira




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